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O mendigo do calçadão de Patos

18/11/2010 às 12:11

Concluído o árduo e cansativo trabalho em mais um dia, já contava com o descanso do fim de semana. Seguia pelo calçadão do centro da cidade na expectativa do primeiro carro para o retorno à Pombal.

Em dado momento do meu trajeto, me deparei com um mendigo que estava com os seus pertences em um saco sentado ao lado de uma loja comercial, ao me avistar foi logo pedindo uma moeda.

Após dar-lhe o que pedia arrisquei uma pergunta que não faria parte da cátedra de qualquer jornalista: você é feliz?  Ele abruptamente respondeu: “tá tirando onda com a minha cara, é? Como posso ser feliz assim vivendo andando de cidade em cidade?”

Calmamente pedi desculpas, despedi-me e prossegui meu caminho até Pombal.

Ao reparar melhor observei que mais adiante estava sua companheira uma morena maltrapilha, cujo odor testemunhava a possibilidade de ainda não ter tomado banho naquele dia.

No colo, acalentada ao peito uma criança nua, também tão sujinha quanto à mãe. Não resisti e novamente perguntei: a senhora é feliz?

“Sou não, senhor”... e começou a debulhar um rosário de lamentações e infortúnios. Novamente, com calma e brandura, despedi-me e continuei meu caminho.

Aquilo me fez refletir durante todo o percurso da viagem. Ao chegar a Pombal, notadamente na rua em que moro encontrei a molecada de sempre despreocupada jogando futebol como se o gol fosse a única coisa que pudesse lhes trazer felicidade, daí o motivo de tantos alaridos e sorrisos.

Ao me aproximar, o mais velho me fez a saudação: boa tarde seu Marcelino! Boa tarde! Respondi atento a cordialidade daquela criança.

Me veio a mente a lembrança do mendigo e ousei fazer a ele a mesma pergunta: Você é feliz? E ele respondeu quase poeticamente: “Sou sim!”

Como gosto muito de perguntar, talvez pela função do ofício, tornei a indagar: o que acha de quem não tem a alegria que você está tendo agora? A resposta me surpreendeu: a felicidade está dentro de nós!

Que sabedoria para uma criança! Que mentalidade espetacular para um vizinho tão ilustre. E comecei a pensar: realmente a felicidade não é deste mundo. E onde estará a felicidade?...

Decidi que ao voltar a Patos na segunda-feira, para o inicio de mais uma jornada de trabalho, levaria não mais uma moeda mas, um pouco mais de ajuda, quem sabe pagaria um prato de comida para aquela  senhora e o ilustre mendigo.

Seguindo o mesmo percurso não mais os encontrei. Talvez  resolveram partir  em busca da felicidade que ainda não conseguiram encontrar pela situação social que os incomoda tanto.

Ao escrever este artigo foi com o mais lídimo desejo de perguntar: você é feliz?  Eis a questão que vou expor para ele novamente no próximo encontro, quando tiver outra feliz ocasião de encontrá-lo nas idas e vindas da vida ou quem sabe no mesmo calçadão do comércio de Patos.

 

Marcelino Neto

jdesousaneto@bol.com.br

Foto: meramente ilustrativa

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