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Jornal 'Valor Econômico' destaca cidade paraibana que não tem sinal de celular

17/10/2011 às 17:10

De porta em porta, foi colhida a assinatura de cada um dos moradores do pequeno município de Grossos, no Rio Grande do Norte. O abaixo-assinado, que acabou se transformando em um tipo de "Movimento dos Sem-Celular", o MSC, foi a única saída encontrada pela prefeitura da cidade para tentar acalmar os ânimos da população de 10 mil habitantes. Já fazia um bom tempo que o pessoal de Grossos andava indignado com a condição vexatória de não ter nenhuma operadora de telefonia celular na cidade.

O calhamaço de assinaturas foi juntado a uma carta e encaminhado, há pouco mais de um mês, para as operadoras Claro, Oi, TIM e Vivo. No documento, população e prefeitura cobraram uma explicação para tal abandono. "Até hoje estamos esperando uma resposta, e nada. Aqui é assim, quem quiser usar o celular, tem que ir para a cidade vizinha", diz Mozaniel Alves de Souza, chefe de gabinete da prefeitura.

Dos 5.565 municípios brasileiros, ainda há cinco cidades que se enquadram no que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) prefere chamar de "municípios mudos". São eles: Grossos (RN), Cristino Castro (PI), Antônio Olinto (PR), Paula Freitas (PR) e Paulo Frontin (PR). Nessas cidades, até hoje não foram instaladas antenas de telefonia celular. Quando ocorre de algum sinal (de péssima qualidade) ser captado pelos aparelhos da população, trata-se da transmissão de antenas de municípios vizinhos.

"Vivemos todos esses anos absolutamente esquecidos, e ainda somos obrigados a ouvir propaganda de operadoras na TV, dizendo que têm cobertura nacional. E nós, como ficamos?", questiona Alécio Maroli, diretor de compras e licitação da prefeitura Paulo Frontin, no Paraná.

O telefone celular passou a fazer parte do cotidiano da população brasileira há 21 anos. Hoje o país tem mais celulares em uso que gente. Os dados mais recentes apontam que há 115 telefones móveis ativos para cada 100 habitantes. "Para a maioria das pessoas, o celular já é um canal de comunicação imprescindível, mas para nós ainda é artigo de luxo", diz Alécio Maroli.

O apagão celular dos três municípios do Paraná é resultado de uma situação peculiar. A Claro possui antenas instaladas ao longo da BR-476, que passa pelo interior de Antônio Olinto, Paula Freitas e Paulo Frontin. O sinal, porém, não alcança a cidade. "Desde 2005 cobramos uma solução. Procuramos a Claro, mas eles nos encaminharam um ofício dizendo que o custo/benefício de colocar uma torre na cidade não compensaria", comenta Maroli, dono de três aparelhos celulares. "Só uso quando vou para outro município."

A mesma crítica é feita por Roseli Cristina Bogdan, secretária de administração da prefeitura de Paula Freitas. "Procuramos a Claro, mas ela nos respondeu que o compromisso dela é com a BR-476", comenta. Procurada pelo Valor, a Claro limitou-se a informar que "investe constantemente na qualidade da sua rede e reforça seu compromisso em oferecer sempre a melhor cobertura para seus clientes".

A dificuldade de comunicação vivida pelos 40 mil habitantes dos cinco municípios excluídos da telefonia celular é enfrentada diariamente por Roseli Cristina Bogdan, que é mãe de filhos em fase de estudo em faculdade e escola do ensino médio. "Como a cidade não tem cobertura, fico sem falar com meus filhos o dia todo, preocupada em saber se está tudo bem. O jeito é ir para casa e esperar", diz Roseli.

Até duas semanas atrás, durante a realização dessa reportagem, a lista dos municípios mudos incluía um sexto integrante. A cidade de Cajazeirinhas, na Paraíba, vivia a agonia de ter uma antena da Vivo instalada há quase um ano, mas que não funcionava. "Para falar com o prefeito da cidade pelo celular, só se ele sair para outro município", disse o diretor de finanças na prefeitura de Cajazeirinhas, Jordão Dantas. Na semana passada, a Vivo informou ao Valor que havia acabado de ligar a antena da cidade, para alívio de seus 3,3 mil habitantes.

Ironicamente, o acesso à internet não é problema para esses municípios. Seja por meio da telefonia fixa ou via satélite, a rede de computadores chega de algum modo até a população. Há lan houses espalhadas pelas cidades. Algumas prefeituras recorrem a blogs para informar a população. Há poucos dias, a página eletrônica de Cajazeirinhas informava que a prefeitura tinha acabado de implantar um "sistema de identificação de ruas através de placas, uma medida simples, mas que é essencial para as pessoas que vêm de fora e para a própria população". Trata-se de placas com o nome da rua, o CEP e o bairro. "Cidades de porte maior do que a nossa não dispõem de tais meios de identificação", informava a prefeitura, comemorando a ideia de a cidade estar mais preparada "para receber investimentos futuros". Como as placas de rua, o celular, finalmente, acaba de chegar.

 

 

Fonte: Jornal Valor Econômico

Postada por Higo de Figueirêdo

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